quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Retrato Em Branco & Preto: Como Esquecer o Mundo Alegre De José Vasconcellos?


Quando se trata do genial José Vasconcellos, todas as homenagens que possam ser feitas hão de ser poucas. Afinal, nosso querido Zé deixa saudades - mas também o legado de uma carreira marcada por um humor de altíssima qualidade. É bem possível que os brasileiros não tenham a devida noção da proporção de sua perda, pouco enfatizada por uma mídia dominada por um conceito de humor mediano e apelativo, quilômetros distante da obra maravilhosa deixada por José Vasconcellos.
Um mês antes de sua morte, precisamente no último dia 10 de setembro, o blog "Ou será que não?" publicou um breve ensaio sobre este ícone que marcou toda uma época e se impôs diante das demais. Reprisamos hoje essa nossa postagem, como forma de prestar mais uma homenagem a José Vasconcellos, que se foi rumo à eternidade - talvez para tornar o céu um lugar bem mais divertido, bem mais alegre, assim como foi o seu mundo: O Mundo Alegre De José Vasconcellos.


Aos 85 anos e enfrentando problemas de saúde, José Vasconcellos está longe de receber todo o crédito que lhe cabe na história do humor nacional. Fala-se muito em Chico Anysio, enaltece-se Jô Soares e até mesmo comediantes de nível questionável, como Costinha e Dercy Gonçalves, são louvados – todos talentosos, cada um à sua maneira. Porém, é lamentável que pouco se fale em José Vasconcellos. Na sua juventude, o humorista se destacou como “one man show” numa época em que este conceito ainda não existia no Brasil. Seus espetáculos, sempre lotados, eram escritos pelo próprio José Vasconcellos que compunha também grande parte da trilha musical.
De suas históricas turnês na década de 1960 nasceram discos clássicos, como “Eu Sou o Espetáculo”, o raríssimo “José Vasconcellos Conta Histórias De Bichos”, o bem-acabado “E o Espetáculo Continua” e o polêmico “O Mundo Alegre De José Vasconcellos” - este último, lançado em 1966 pela extinta gravadora Odeon, teve parte de seu conteúdo vetado pela censura da época que propôs cortes em seu conteúdo. Mas já era tarde, uma vez que o disco já estava disponível no mercado. Outros vinis do humorista foram lançados nos anos seguintes, como “O Espetáculo é Zé Vasconcellos” e “A Hora e a Vez Do Riso”, porém sem a mesma repercussão de seus trabalhos anteriores.
José Vasconcellos fez fortuna com seus shows, com suas impagáveis imitações e com as personagens que criou, investindo pesado no que poderia ter sido a Vasconcelândia, o maior parque de diversão e entretenimento do país – que só não foi para frente em função da falta de apoio do poder público que, na ocasião, recusou-se a conceder os recursos necessários à infra-estrutura que permitiria o acesso ao gigantesco terreno. Muito por isso, José Vasconcellos perdeu dinheiro – mas não o caráter: ao longo das décadas em que esteve na ativa, jamais fez uso de um único palavrão em seus textos e anedotas. Talentos como o de José Vasconcellos mostram-se cada vez mais escassos num Brasil infestado pela chatice do “politicamente correto”. Trata-se de um artista incomparável, atemporal e único, capaz de tornar o mundo, de fato, muito mais alegre.

(Ou será que não, 10/09/2011)

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