sábado, 22 de outubro de 2011

Agora, Falando Sério: MEC Nota Zero!


Como eram bons os tempos em que tínhamos 180 dias letivos! É de consenso quase geral que os alunos aprendiam mais, muito pelo fato de que tinham suas mentes poupadas graças a um período maior de descanso. Além disso, não precisavam se estressar com os trocentos trabalhos e testes que a garotada de hoje é obrigada a fazer, resultado de um conceito pedagógico distorcido, segundo o qual um sistema de avaliação compartimentada reduz os índices de repetência. Tal visão mostra-se uma tremenda bobagem, servindo mais para cansar os alunos, já exauridos pelos atuais 200 dias letivos. O resultado? Tão simples quanto uma tabuada de 10: alunos mais cansados aprendem menos, bem menos do que a garotada dos bons tempos da Lei 5692/71 costumava aprender.
Digo bons tempos porque permanecíamos por um número menor de dias na escola, o que nos poupava e fazia da sala de aula um ambiente agradável ao invés de enfadonho. Em muitas matérias, bastava fazer uma prova para conseguir a nota bimestral. Sem ter de dispersar energias por conta de inúmeras (e, muitas vezes, inúteis) avaliações, os alunos dos bons tempos podiam manter o foco naquelas provas para obter boas médias. Eventualmente, um ou outro professor passava trabalhos para que fossem somados às notas, mas eram poucos e geralmente de confecção simples. Porém, com a chegada da Lei 9394/96, aos poucos a escola foi se transformando num pesadelo para alunos, professores, diretores, merendeiras, porteiros, enfim: para todos – exceto para os burocratas da Educação que, de seus confortáveis e silenciosos gabinetes, ditam o que deve ou não ser feito em escolas que nunca visitaram, nunca trabalharam e, mesmo assim, pensam conhecer bem.
Preocupados sempre em economizar – já que, para eles, a Educação é vista como gasto, não como investimento –, este misto de políticos interesseiros, pedagogos de gabinete, secretários e assessores graduados em ignorância continua acreditando que, com mais avaliações, reprova-se menos, levando os órgãos públicos a gastarem pouco graças aos alunos que seguem adiante, sem reprovação – e sem saber quase nada, de tão exaustos que estão. Sob o batido clichê de que “a escola não pode ser excludente e, para tanto, tem de fazer todo o possível para não reprovar” (e, assim, economizar), impuseram verdadeiros absurdos como a famigerada aprovação automática, cujo único resultado prático foi a criação de toda uma geração de analfabetos funcionais. Ampliando este verdadeiro quadro de horrores, temos o ECA – Estatuto da Criança e Do Adolescente – que, com seus inúmeros equívocos jurídicos, contribui para a formação de milhares de menores de idade isentos da importante noção de responsabilidade, alguns dos quais graduando-se desde cedo nos campus acadêmicos do crime e da impunidade. O resultado continua sendo tão simples quanto uma tabuada de 10: cansados, sem estímulo e desencorajados quanto ao cumprimento de deveres, a maioria destes jovens segue aprendendo menos ou sequer aprendendo, ao mesmo tempo em que os professores, aos poucos, vão se transformando num grupo profissional em processo de extinção – principalmente os bons...
Apesar das evidentes disposições em contrário, o atrapalhado Fernando Haddad, ministro da Educação, andou ventilando a possibilidade de ampliar de 200 para 220 dias letivos o ano escolar em todo o país. Como era de se esperar, parece que as autoridades educacionais do Brasil possuem um considerável déficit de aprendizagem por não conseguirem fazer dos próprios erros uma proveitosa lição de casa: não é a quantidade de dias na escola o que faz a diferença no nível de aprendizagem dos alunos, mas sim o tempo de permanência destes no ambiente escolar. Seguindo a ótica do atual ministro, fica evidente que mais dias letivos só servirão para tornar os alunos ainda mais cansados e desinteressados do que já estão, reduzindo a capacidade de aprendizagem do corpo discente, especialmente nos 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental. Aumentar o tempo de permanência na escola através da implementação do horário integral, oferecendo aos educandos atividades culturais, artísticas, esportivas e mesmo profissionalizantes no contra-turno seria o mais ideal, pois matematicamente dobraria os antigos 180 dias a aproximadamente 360, uma vez que, ao invés de passar somente 5 ou 6 tempos por dia na escola, os alunos passariam de 10 a 12 tempos – com atividades variadas em grupos de interesse e mais dias de recesso em casa, necessários ao descanso de suas mentes. Mas escolas de horário integral custam caro e exigem investimentos em infra-estrutura, enquanto a maioria dos governantes brasileiros só pensa em economizar, talvez como estratégia para garantir mais recursos às suas falcatruas.
Ampliar em mais 20 dias o ano letivo só serviria para piorar o que já está muito ruim, servindo mais como diagnóstico do quanto o Ministério da Educação continua digno de reprovação. Como eram bons os tempos em que tínhamos 180 dias letivos, menos burocratas da Educação, menos retórica e alunos com o tempo certo para aprender mais...

Informações atualizadas sobre o tema:
http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI5424834-EI8266,00-MEC+desiste+de+aumentar+dias+com+aula+nas+escolas+do+Pais.html

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