sexta-feira, 12 de novembro de 2010

As Coisas Esquisitas Desta Vida: A Estação


As esperanças de tantos sobre o piso de concreto armado. Cada passo carrega uma história, cada história tem seu próprio conflito, cada conflito exibe, no silêncio das bocas caladas, suas próprias personagens. Pessoas chegam, pessoas partem e histórias quase se repetem, refletidas nos muitos rostos que vão e que vêm, deslocando-se no espaço e no tempo, carregados pelos passos dos que alimentam sementes de esperança.
Qual um resumo da vida das pessoas, a estação é livro aberto à espera de interpretação. Todavia, não sai do prelo em razão de suas incontáveis páginas e decifração difícil - demanda pela oportunidade de conceber a cada personagem o privilégio da palavra. E raramente há palavras dos domínios soberanos dos passos silentes, das boas emudecidas e dos deveres descabidos.
As esperanças de tantos descem rampas, atravessam passarelas e se vão sem maiores atropelos para muito além do espaço da estação. Em suas casas, os mesmos dramas esperam, as mesmas damas esperam e crianças brincam despreocupadas, sem que suponham os passos que as esperam no porvir. Por algumas horas a estação dormirá em sua paciente quietude e permanecerá aguardando o retorno dos mesmos passos cansados, das mesmas bocas caladas e mesmas histórias esquecidas, porém carregadas pelas esperanças que trazem no coração.

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