quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Seção Ácaro: As Torres Da Barra Da Tijuca/RJ


Morar na Barra da Tijuca entre o final da década de 1960 e início da década de 1970 não era exatamente “de arrancar o couro”. Considerada uma espécie de “fronteira urbana” da cidade do Rio de Janeiro, num tempo em que os bairros nobres da cidade – como Ipanema, Leblon e Copacabana – perdiam a beleza de suas paisagens por conta dos espigões erguidos à revelia dos interesses da população, a quase selvagem Barra da Tijuca dispunha de vastos terrenos de valor comercial e IPTU razoavelmente baixos, além de uma bela orla que nada ficava devendo às praias mais tradicionais. Havia também promessas quanto à mobilidade interna e à facilidade de acesso ao bairro (os anúncios de imóveis falavam em 7 minutos da Zona Sul à Barra, percurso cuja cronometragem nos dias de hoje depende muito do bom humor do trânsito). Ou seja: tudo o que a especulação imobiliária mais cobiça!
Foi nesse contexto que surgiu o projeto de urbanizar a Barra da Tijuca a partir da construção de 70 torres idênticas. Envolvendo nomes como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Burle Marx, as obras foram iniciadas em 1967 com previsão de término para 1972. Porém, passados 44 anos, apenas 3 torres foram, de fato, erguidas, das quais duas estão devidamente ocupadas e uma está até hoje vazia e inacabada. As intenções dos idealizadores eram realmente boas: transformar a Barra da Tijuca numa espécie de “condomínio gigante” no qual os prédios seriam separados por áreas verdes e onde haveria tranquilidade para se levar os filhos à escola, ir à padaria ou fazer pequenas compras nos mercados locais. O projeto era munido de muitos méritos, mas também dispunha de alguns pecados: indubitavelmente, o maior deles se chamou Desenvolvimento Engenharia Ltda (que bem poderia ter recebido o nome de Subdesenvolvimento Engenharia Ltda). De propriedade do construtor megalomaníaco e “megapicareta” Mucio Athayde (cujo nome remonta a irregularidades empresarias, politicas e administrativas de toda monta), a empreiteira jamais finalizou os prédios e decretou falência em 2005 sem dar maiores satisfações àqueles que pagaram por seus apartamentos e não receberam sequer as chaves.
As Torres da Barra da Tijuca figuram na Seção Ácaro desta semana como um exemplo de propaganda enganosa, do tipo mais execrável. Neste raríssimo anúncio, obtido no blog Paraíso Ocupado e que foi publicado originalmente nos jornais e revistas da época, nos deparamos com elementos comuns às publicações do gênero: a maneira enfática como a qualidade de vida é destacada, a imagem da maquete do projeto, a identificação de seus idealizadores, as “parcelinhas” de acordo com as dimensões dos apartamentos e até mesmo uma gatinha como incentivo extra – principalmente para os marmanjos. É claro que, aos olhos de hoje, a Barra da Tijuca iria parecer um tanto quanto esquisita com 70 enfadonhas torres redondas, pois as pessoas estão acostumadas ao bairro da maneira como ele evoluiu e se consolidou. Todavia, triste mesmo é saber que, apesar de exemplos como este, empreiteiras tão desonestas quanto a finada Desenvolvimento Engenharia ainda persistem no Brasil. Que durem tão somente as construtoras honestas que realmente beneficiam seus clientes, transformando novos espaços ocupados não em dores de cabeça, mas sim em lugares providos da qualidade necessária para se viver.
Para saber mais sobre As Torres da Barra da Tijuca, visite:
http://wouterelke.nl/rio/

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