Infelizes são as montanhas que têm diante si tanta beleza, mas não podem aproveitar-se dela. Estão alicerçadas a um único lugar que as expõe aos açoites de ventos gélidos aptos a desgastá-las, vagarosa e silenciosamente, consumindo suas estruturas e carregando, pouco a pouco, cada pequena partícula rochosa que as compõe.
Felizes são as montanhas que não estão sozinhas: quase sempre têm o vento junto a elas. Se, por um lado, a erosão lhes consome a superfície, por outro, cada uma de suas minúsculas partes estará sempre inserida às paisagens que deslumbram. Podem se sentir entristecidas diante da idéia de jamais poderem estar tão próximas a outros ventos, mas confortam-se com o fato de que aquele lhes é suficiente, pois de fato lhes pertence.
Como as montanhas, por vezes nos enfadamos diante de nossas rotinas, com as pessoas que conosco convivem ou com as singularidades do lugar-comum. Porém, não podemos nos esquecer que aquilo que nos possui também nos pertence e, por isso, dispõe de relevância em nossas vidas, pois assim como o vento consome as montanhas e lhes concede forma e beleza, também precisamos aprender a apreciar cada parte de nossas vidas. Se, por um lado, exigem muito de nós, por outro concedem o sentido do qual precisamos para seguir em frente, sem temores daquilo que existe e do que ainda virá.
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