Em tempos de eleição, cabe a velha pergunta: existe mesmo uma democracia no Brasil? Ou o que é de direito, na atual conjuntura, não consegue ser de fato?
Difícil crer numa democracia no real sentido da palavra em um país cuja população é obrigada a votar. Quando se trata de servidor público, o não comparecimento sem justificativa à seção eleitoral pode resultar em pesadas retaliações. Para piorar, pessoas convocadas a labutar nas eleições também não podem se dar ao luxo da ausência e, neste caso, os trabalhadores da iniciativa privada são os mais prejudicados, pois não são raros os casos daqueles que não puderam tirar as folgas que lhes eram de direito, ameaçados de demissão – rebaixando assim suas atividades laborais no pleito a um desprezível uso de mão-de-obra escrava.
Difícil crer numa democracia no real sentido da palavra em um país cuja população é obrigada a aturar um enfadonho e boçal horário eleitoral supostamente gratuito: existem verbas públicas destinadas a sua existência e, mesmo que estas não existissem, a mais sádica das seções de hipocrisia e interesse próprio da TV e do rádio brasileiros custaria – como custa – nossa paciência.
Difícil crer numa democracia no real sentido da palavra em um país cujos humoristas não podem fazer piadas ou imitações durante o período eleitoral, sob o argumento de que isto beneficiaria este ou aquele candidato. Na verdade, apenas mais um engodo de políticos palhaços desprovidos de graça: temem pela merecida ridicularização de suas imagens, uma vez que não passam de senhores da mediocridade.
Difícil crer numa democracia no real sentido da palavra em um país onde o serviço militar é ainda obrigatório para os homens, onde a opinião pública é tratada com desdém por parte daqueles que deveriam representar a nação, onde a justiça existe baseada nas cláusulas pétreas das diferenças nas cifras das contas bancárias, onde o manifesto da opinião pode se transformar em mais um dos milhares de processos que emperram o judiciário nacional, onde o poder não emana do povo, mas das minorias privilegiadas que fazem constante uso de suas marionetes políticas em troca do descabido direito de legislar em causa própria.
Mas é fácil acreditar que a democracia no Brasil não passa de um mito. E enquanto mito, ela assume proporções de paixão coletiva por algo intangível, abstrato, cuja existência e materialização não passa de uma utopia sarcástica alimentada por uma falsa sensação de poder popular que, no Brasil, assenta-se entre o improvável e o impossível.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
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