sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Seção Cult: 1974 - O Disco Censurado de Roberto Carlos - 2ª Parte


Dando continuidade às conjecturas a cerca do álbum de Roberto Carlos lançado em 1974, O Homem Do Canadá apresenta neste post possíveis interpretações de mais algumas das letras contidas neste inquietante clássico do artista.
O PORTÃO
Essa trata do retorno de alguém que, por uma razão não esclarecida ao longo da letra, volta ao lar após longa ausência. Parece ser uma continuação de "Despedida". Li algo sobre a possibilidade de a letra abordar a volta de alguém que precisou ausentar-se do país durante o período de perseguições políticas da Ditadura Militar. Mas a letra, como falei, não torna isso claro - pode estar apenas subentendido. Há ainda a interpretação "bola de cristal": Roberto e Erasmo teriam feito a canção em homenagem àqueles que deixaram forçadamente o país nessa época, uma espécie de "hino de esperança pelo regresso em tempos melhores". Particularmente, O Homem Do Canadá prefere entender a música como continuação de "Despedida".
TERNURA ANTIGA/ VOCÊ
Com duas músicas a menos no repertório planejado para o disco, Roberto e seus produtores precisavam dar um jeito .O Homem Do Canadá não possui fonte segura para comprovar isso - minha suspeita é estritamente pessoal.
Acredito que "Ternura Antiga", de Dolores Duran, seja suspeita em potencial de ter servido como tapa-buraco. A música é linda - Dolores era compositora consagrada - e Roberto deu a ela uma interpretação visceral, cativante. Mas não era comum ao Rei gravar tal estilo musical (era um cantor jovem então, falando a um público jovem), embora ele já houvesse gravado Dorival Caymmi em 1972. Belíssima música, belíssima interpretação, mas que deixa uma pulga atrás da orelha.
No quesito "tapa-buraco", entra também a anêmica "Você". Rica em clichês românticos do tipo que nem Paulo Sérgio usava muito, poderia ter sido composta por um garoto do Ensino Médio: soa piegas demais. Parecia ser aquela música que estava guardada entre os papéis do Rei, aí precisou de alguma coisa e falou: "vamos gravar aquela que a gente não gostou muito, estamos com pressa bicho!" e aí rolou. Num trabalho que congrega pérolas como "É preciso saber viver" ou "O Portão", "Você" nos dá vontade de ouvir a outra "Você", do Tim Maia.
É PRECISO SABER VIVER
A letra da música em si constitui uma mensagem positiva para as pessoas: de que elas são capazes de superar os obstáculos impostos pela vida, desde que estejam preparadas para vencê-los (ou evitá-los). Não há nada demais nisso e a concepção da canção é bem legal. A única postura acintosa está no título: imagine-se em 1974, o país saindo do fiasco do governo Médici, muita gente de oposição aos governos militares da época desaparecendo ou sendo obrigada a viver no exílio. Aí o cabeludo vem e grava uma canção cujo estribilho diz: É PRECISO SABER VIVER...Por que "era preciso saber viver" então? Quem não soubesse viver estaria correndo quais tipos de risco?
De todas as músicas desse álbum clássico, certamente esta é a mais atual (tanto que foi regravada pelos Titans há poucos anos).
Os motivos podem ser outros, mas ainda É PRECISO SABER VIVER.

Na próxima Seção Cult concluiremos a análise deste LP de Roberto Carlos, desta vez abordando as canções correspondentes ao lado B do disco.

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