quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Seção Cult: 1974 - O Disco Censurado de Roberto Carlos - 1ª Parte


Pouca gente sabe, mas as músicas "A Deusa da Minha Rua" e "Ternura Antiga” não deveriam estar presentes no LP d 1974 de Roberto Carlos. Entraram de tapa-buraco, ocupando o espaço que seria destinado a duas músicas de conotação política (ao menos foi como os censores entenderam na época) e que, por terem sido vetadas, ficaram de fora do disco. Era reflexo da insatisfação de Roberto e Erasmo para com a repressão imposta pelos militares, coisa que já vinha se manifestando em LP's anteriores (como em "Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos" e mesmo "Eu Quero Apenas", do mesmo disco, que só não dançou porque os censores não entenderam a metáfora presente na canção). E O que não dizer dos versos de "Eu Quero Apenas": "Quero meu filho PISANDO FIRME, CANTANDO ALTO, SORRINDO LIVRE" - isso em plena Ditadura. E o que não dizer de "O Portão", senão o fato de que pode estar narrando o retorno de um exilado político? Pra não falar de outros momentos do rei, como "O Ano Passado" ou "Amazônia" ou ainda "Todos Estão Surdos", canções que marcaram outros discos. O LP de 1974 não faz críticas diretas à Ditadura, mas, de uma maneira genial, questiona as arbitrariedades presentes na sociedade da época.
E, para Roberto, poderia não se tratar de uma questão de ser "lucrativo" ($$$) ou não. Na sua sensibilidade, o artista costuma não pensar em dinheiro - e isso Roberto já tinha, podia fazer o que quisesse pelo prazer de fazer (Erasmo também).
Roberto e Erasmo já estavam de saco cheio para com a Censura há tempos - vide a gravação de "Como Dois e Dois" ou "Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos", ambas do disco de 1971 -, talvez pelo modo pedante com o qual o governo tratava os artistas. O Homem do Canadá entende que esse planejado trabalho de 1974 foi uma maneira de ambos externarem esse sentimento, porém como não podiam fazer isso de forma objetiva - a repressão era a mesma para todos - utilizavam-se de metáforas que, aliás, só fazem acrescentar a um disco que, por si só, já é um clássico.
Muito por isso, comentários dão conta de que realmente duas músicas (compostas por Roberto e Erasmo) teriam sido vetadas pelos censores. Aí completaram o disco com "A Deusa da Minha da Rua" e "Ternura Antiga". Para exemplificar essa tese, O Homem Do Canadá vai realizar uma análise crítica de cada uma das canções do polêmico vinil.

DESPEDIDA/QUERO VER VOCÊ DE PERTO
Por que a música "Despedida" é a primeira do disco e não a última? Roberto/Erasmo consideravam que toda a despedida é, na verdade, a esperança de um começo (ou recomeço)? Ou eles teriam feito a música como uma referência aos exilados políticos do período que se viram forçados a deixar o Brasil devido ao AI-5 e outros instrumentos de repressão oficial? E aquele verso final: "O meu coração aqui vou deixar/ Não ligue se acaso eu chorar/ Mas AGORA, Adeus". Esse AGORA indicaria a esperança de um retorno, como se quisesse dizer "é uma condição temporária, assim que a coisa se acalmar eu volto".
Toda a doçura da canção parece esconder uma metáfora e tanto.
Há outra passagem intrigante na letra de "Despedida": "Só me resta agora dizer adeus/ e depois o meu caminho seguir..." Por que "só me resta"? Possivelmente, para a personagem da música, não haveria a opção de ficar. Ou seja: por força das circunstâncias, ela via-se obrigada a partir, não lhe restando outra alternativa, como ocorreu àqueles que foram exilados ou tiveram de buscar o exílio em razão da política repressiva dos governos militares.
Já música "Quero Ver Você de Perto" não apresenta conotações políticas aparentes, nem mesmo por metáforas, mas localiza-se no disco estrategicamente entre "Despedida" e "O Portão", essa sim contendo "algo a mais". Possivelmente, a segunda música do disco (composição de Benito de Paula) aparentemente tem a função de dar uma acalmada (ou “maquiada”) nas coisas.
Para evitar que esta abordagem se alongue em demasia e se torne cansativa, O Homem Do Canadá continuará em breve, na 2ª parte, quando voltaremos a falar sobre esse LP de Roberto Carlos na seção cultural do Blog. Existem as outras canções que também serão analisadas.

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