domingo, 19 de junho de 2011

Seção VIRABREQUIM: Como Esquecer a Gurgel?


Embora pareça mais uma Seção Retrato Em Branco & Preto do blog, o assunto da Seção VIRABREQUIM desta semana é automóvel mesmo. E não apenas um carro como tantos outros, mas sim um dos grandes ícones de nossa história automobilística, tanto por seu pioneirismo quanto pela sua ousadia: a genuinamente brasileira Gurgel Motores S/A. E quando o assunto é Gurgel, uma das coisas que a história nos ensina é que o governo brasileiro sabe bem como ser passional quando decide pôr a perder uma interessante visão de futuro – e foi assim com a montadora fundada em setembro de 1969 pelo engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel. Nascida no auge do Regime Militar, a empresa – que produzia karts e mini-carros no início da década de 1960 – teve no bugre Ipanema seu primeiro automóvel, porém outros sucessos viriam nos anos seguintes.
Foram 43 mil veículos ao longo dos 27 anos de existência, modelos como o Xavante X12 TR (1972), Xavante X12 (1975, conhecido por suportar bem as terríveis estradas da época), G800 (1982), Jipe Carajás (1984) e os consagrados BR800 (1988) e Supermini (1992, um carro pensado para o trânsito das grandes cidades), dentre outros. No exterior, a Gurgel também agradava: entre 1977 e 1978, cerca de 25% dos carros produzidos pela montadora seguiram para outros paises. Além disso, em 1979, toda a linha teve boa aceitação no Salão do Automóvel de Genebra (Suíça), ocasião aproveitada para o lançamento do furgão X15. Como se não bastasse toda a sua ousadia, a Gurgel produziu na década de 1970, em caráter experimental, o Itaipu, o primeiro modelo nacional 100% elétrico.
Todavia, quando a Gurgel entrou em crise no início da década de 1990, os sucessos obtidos pela empresa não foram suficientes para sensibilizar o governo brasileiro – crise essa motivada por medidas oficiais, como a abertura do mercado nacional aos importados e as facilidades concedidas às montadoras estrangeiras através da política de “carros populares”. Talvez como vendeta ao fato de o Exército Brasileiro ter sido o principal cliente da Gurgel durante anos, o então novo governo civil negou o pedido de socorro financeiro feito pela empresa, o que contribuiu para a falência da Gurgel em 1994 – permanecendo parcialmente ativa até 1996. João Augusto C. do Amaral Gurgel morreu em 2009, aos 83 anos e, com ele, parte da esperança de o Brasil ter algum dia uma grande indústria automotiva totalmente nacional. Lamentável e vergonhoso.
Para saber mais sobre a Gurgel e seus carros, visite o site: www.gurgel800.com.br

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