Aqui não é meu lugar. Não deveria esta água ser bebida por mim e eu não deveria estar respirando deste ar. Não é aqui que deveria ganhar meus proventos ou criar meus rebentos. Não é este o lugar e o momento, não é este o tempo e nem exato está o relógio que não deveria ser meu. Mas, por Deus, aqui estou, de boca calada e olhar furtivo, fingindo que ainda vivo, meio como por desatino.
O meu lugar é aquele que habita meu coração, que me faz respirar fundo, capaz de me levar a dar a volta ao mundo apenas para estar lá. Pois é lá que encontrarei o ar certo, a mais cristalina das águas, os dias mais belos e noites plenas de bom sono. É lá que encontrarei meus sonhos e a boa vontade em seguir vivendo, com a boca pensante e olhar mais pleno, com a alma tranqüila por regozijar. O meu lugar é aquele que me completa, pois a ele contemplo e aproveito o tempo pra viver por nada. Lá não existem fantasmas, nem mágoas, nem máculas ou estorvos para estornar: lá é o meu lugar.
Mas estou aqui e aqui não é o meu lugar. Por isso vou existindo, insistindo e reprimindo toda a vontade que me leva a querer chegar lá. Mas ainda estou aqui e por mais que não seja o meu lugar, dá pra levar, sem crise, sem pressa: a esperança de me encontrar não muda, não envelhece, nem há quem a represe - se sustenta no encanto de um lugar que está lá, ansioso e furtivo, apenas esperando o momento de eu chegar...
(Publicado em 27/06/2010)
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
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